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Entrevista ao Blog da Escritora Katia Gobbi



Fale-me de você! Qual seu Nome?:

Sou Gabriel Santamaria, autor dos romances 

O Evangelho dos Loucos, 

No Tempo dos Segredos, 

O Arcano da Morte, 

do livro de contos Assim Morre a Inocência, 

do livro de crônicas Para Ler no Caminho

e dos livros de poesias Destino Navegante e O Saber Silencioso das Coisas.

Cidade/estado onde nasceu:

São Paulo/SP

Quando percebeu que tinha o dom da escrita a seu favor?

Foi bastante cedo, mais ou menos aos 13 anos de idade. A descoberta da escrita, ou do prazer de produzir literatura, foi antecedida pela descoberta da leitura. De início, meus interesses literários foram direcionados aos romances policiais, sobretudo de autores ingleses. De certo modo, essa influência logo no começo me marcou, mas só depois de quase 30 anos é que publiquei um romance policial: O Arcano da Morte. Antes disso vieram outros livros que refletiam influências diferentes em minha carreira de escritor, como por exemplo a poesia, os contos, etc.

Quais são os livros e escritores preferidos que o inspiram a escrever?

Não é somente o livro ou autor que me inspira a escrever. Creio que a verdadeira inspiração está na realidade, é a própria realidade que serve de inspiração para o autor. Mas há alguns escritores que, de fato, exercem ou exerceram influência sobre mim. Muitas vezes é possível encontrar referências em algumas das minhas obras, como é o caso do escritor alemão Hermann Hesse que está presente no romance O Evangelho dos Loucos. Outros também foram importantes: Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Sándor Márai, Franz Kafka, Fiódor Dostoiévski, Goethe, Bruno Tolentino, Jorge Luís Borges, Henry Miller,  entre outros.

Como surgem as ideias para escrever e em que momentos do dia?

Não há exatamente um momento específico, a inspiração pode vir a qualquer momento. Mas não se trata apenas de inspiração, trata-se de estabelecer uma rotina de trabalho. Há muitas coisas que podem produzir a inspiração, mas como eu disse a realidade é mais importante. E não somente a realidade no tempo presente, incluo as recordações, aquilo que a memória conserva. Além de leituras é claro, os estudos que costumo fazer. Tudo isso é mantido dentro da memória, e às vezes emerge como forma de inspiração.

Precisa de silêncio absoluto ou prefere algum gênero musical?

O silêncio é importante, mas também já escrevi escutando música. Principalmente música clássica, no entanto, existem alguns estilos norte-americanos que me agradam como Indie e Folk.

Já tem alguma obra lançada no mercado? Se várias, qual a favorita?

Tenho as sete obras mencionadas na minha apresentação, e sinceramente não dedico uma predileção a nenhuma. Gosto de todos os livros como se fossem meus filhos. É claro que há alguns que agradam mais aos leitores. Por exemplo, o romance O Evangelho dos Loucos e o livro de crônicas Para Ler no Caminho.

Atualmente, cada vez é mais difícil publicar um livro, principalmente devido a motivos financeiros. Qual foi a sua maior dificuldade na publicação dos seus, caso já tenha publicado?

Discordo dessa posição, acredito que cada vez seja mais fácil publicar um livro devido às inúmeras formas de auto publicação por demanda. Há várias editoras na internet que possibilitam ao escritor a publicação de um livro em menos de trinta minutos, então nunca foi tão fácil publicar um livro. O grande problema é que na mesma medida em que há mais facilidade para a edição de uma obra literária, existem naturalmente mais escritores no mercado, e a concorrência às vezes é difícil. Portanto, o grande desafio hoje não é publicar um livro, é conseguir leitores, considerando que a oferta de obras literárias no mercado é maior do que antigamente. Formar o seu nicho particular de leitores é o grande desafio do autor nos tempos atuais.

Compare a situação do Brasil na literatura, relativamente aos outros países. Acha que teria mais ou menos sucesso se publicasse as mesmas obras em outro país?

O mercado editorial brasileiro ainda depende muito de subsídios estatais, e na realidade a sobrevivência desse mercado deveria depender mais dos leitores propriamente. Porém, o brasileiro ainda lê menos do que outros povos, sendo assim, construir uma carreira de sucesso na literatura não é tão fácil. É claro que há muitas oportunidades no mercado editorial norte-americano ou no mercado editorial francês ou no italiano ou no alemão, contudo, o fato é que um escritor brasileiro tem que lidar com a sociedade a que pertence. Talvez existam mais desafios, porém, a circunstância que nos cabe é essa, e ficar a vida inteira lamentando não é melhor solução. O escritor tem que trabalhar com as condições que encontra.

O que o motiva a escrever?

Há um impulso irresistível que conduz o autor à literatura, algo que nem sempre é facilmente explicado, ou seja, existe uma necessidade visceral que não se confunde exatamente com o desejo de ser reconhecido. É uma espécie de anseio, e isso tem a ver propriamente com a expressão. Dizer aquilo que permanece oculto no coração, traduzir-se como dizia o poeta Ferreira Gullar. Isso é o que constitui a motivação.

Houve preocupação em se dirigir a um tipo de leitor especificamente? Que reação espera do leitor ao ler o que escreve?

Os meus livros não se dirigem a um público específico, mas a qualquer pessoa que aprecie literatura. Aquilo que desejo ao publicar uma obra é que ela produza alguma forma de reflexão, que o leitor não saia dela apenas com a sensação de ter experimentado bons momentos do entretenimento. Quero que algo se modifique, e anseio também que o leitor se sinta fisgado pela história.

Falemos de cama: adormecendo lhe vem uma idéia, deixa para pensar no dia seguinte ou levanta-se de um salto, alucinado?

Costumo tomar anotações mentais, isso em qualquer momento no qual as ideias surjam. Pode ser à noite, na cama, antes de adormecer. Ou pode ser durante um passeio, em uma viagem, enfim, sempre que as ideias surgem procuro me concentrar mentalmente nelas e fazer uma espécie de registro íntimo. Aquelas que são mais importantes permanecem por mais tempo, aquelas que não são tão importantes assim muitas vezes desaparecem.

Sentimentos negativos como ódio, ciúme, inveja, vingança são motores bem regulados para a criação de uma obra?

Nenhum sentimento negativo favorece a criação de uma obra literária. Todo escritor deve saber disso: não se escreve motivado pelo sentimento intenso no próprio ato do sentir, e isso vale até mesmo quando o sentimento é favorável, tal como a paixão. É preciso dar tempo até que o fervor do sentimento se transforme em calmaria, e daí sim produzir o texto literário. Sentimentos ruins devem passar por um processo de purificação a fim de que a alma do escritor esteja tranquila no momento da escrita. Não se deve transferir para o leitor coisas como ódio, ciúme, inveja, etc.

O que lhe atrai mais: versos livres ou formas fixas?

Utilizo ambas as técnicas sem fazer qualquer tipo de distinção. Muitos dos poetas que mais admiro escreveram em versos livres, sobretudo aqueles da escola modernista como Walt Whitman e  Federico Garcia Lorca. Mas também me adestrei nos versos metrificados, e não creio encontrar dificuldade no momento de escrever em decassílabos ou dodecassílabos.

A parte da emoção é maior na sua obra ou em sua vida?

Primeiro existe a vivência da emoção na realidade, depois há um processo em que essa emoção é assimilada pela personalidade, e filtradas as impurezas da euforia excessiva, por exemplo, torna-se literatura. Uma coisa está ligada a outra, mas cada qual no seu tempo propício.

Além de escrever, o que mais faz?

Sou psicanalista e desenvolvo estudos nas áreas da filosofia, religião, esoterismo e também crítica literária.

Quem é você no íntimo? Quando está só em seu momento de introspecção...

No fundo, sou bastante tranquilo, e acredito que essa tranquilidade é consequência do fato de buscar constantemente o crescimento espiritual e intelectual, e viver a existência de escritor que me cabe ter. Fazer o que se gosta, dedicar-se a isso é um modo de encontrar a felicidade, e mesmo com todas as dificuldades que a carreira literária impõe, eu acredito ser feliz.


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