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AS CONFUSÕES DA DIREITA NO BRASIL

Atualizado: 26 de out. de 2019

As questões relacionadas à política não se encontram no centro dos meus maiores interesses intelectuais. Sinto-me à vontade dedicando-me aos estudos da literatura, da filosofia, da teologia, da psicanálise e das ciências físicas. Isso não significa que despreze a política ou que não dê a ela sua devida importância. Significa apenas que a considero frequentemente um assunto demasiado árido, e não somente isso, considero-a também motivo de desilusão. Sem dúvida, não me refiro a desilusões pessoais: trata-se de uma decepção social, característica de um contexto no qual a política encontra-se vinculada a interesses familiares ou partidários. Mesmo assim, não me abstenho totalmente de acompanhar o cenário, analisando-o dentro de uma perspectiva ideológica, e tirando conclusões que, no mais das vezes, não são imediatas.

O tempo é o senhor da razão e, no que tange às questões políticas, acaba mostrando realidades que no calor das campanhas ou no clamor das vitórias são mantidas em segredo. Por isso, a prudência sobre esse assunto costuma ser boa conselheira.

Havendo transcorrido praticamente um ano desde a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil, é inegável que o entusiasmo inicial dê lugar ao ceticismo de uma parcela do eleitorado e, sobretudo, de alguns membros de sua base aliada. Atualmente o diálogo entre a presidência e o PSL encontra-se corrompido pela dificuldade de estabelecerem objetivos comuns. O modo como Bolsonaro conduz a política nacional deixou de ser convincente para muitos de seus apoiadores, principalmente levando em consideração o comportamento de seus filhos. A guerra declarada na internet envolve geralmente Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Major Olímpio, Joice Hasselmann, Olavo de Carvalho, Alexandre Frota, etc., alguns defendendo o governo federal, outros o atacando frontalmente.

Mas qual seria, em essência, o motivo da discórdia?

Há que se observar com cuidado que muitos desses que se uniram em algum momento tinham como bandeira ideológica não exatamente a construção de uma sociedade especifica ou a condição peculiar de um governo, mas sim a derrubada de uma estrutura ideológica montada durante anos e anos por um regime político esquerdistas. Supondo-se que a vitória de um candidato direitista represente, ao menos de modo temporário, a queda do principal partido de esquerda do país, o Partido dos Trabalhadores, ainda assim não devemos afirmar que o sucesso parcial do movimento direitistas incipiente tenha conseguido estabelecer com clareza um plano de governo que aglutine novamente a base aliada. Os mesmos que se reuniram no intuito de derrotar um inimigo comum, não conseguem agora se entender quando se trata de dirigir o país com eficiência.

Isso prova suficientemente que a política não se constitui apenas da arte de derrotar o inimigo, constitui-se também na tarefa de construir uma sociedade. Porém, quando as principais figuras da direita não conseguem entrar em acordo, torna-se evidente a inexistência de um projeto político capaz de tranquilizar esses apoiadores, causando assim tamanha confusão mental que até mesmo alguns que antes desprezavam o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário político, atualmente passem a defender essa possibilidade, como aconteceu recentemente com o deputado Alexandre Frota.

Situações dessa natureza produzem uma confusão tamanha que não é possível analisar o espectro político sem recordar quão interessantes e coerentes são as temáticas relacionadas à metafísica e à literatura. A despeito disso, publicar minhas impressões sobre o momento atual é alguma coisa que faço por uma espécie de obrigação cívica.


Gabriel Santamaria

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